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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mário Soares e a Democracia.





Hoje o Dr. Mário Soares disse finalmente o que todos os media queriam que alguém dissesse: que o Presidente devia demitir o governo e formar um governo de salvação nacional. Ontem os jornalistas já tinham tentado estender esta armadilha a António José Seguro que teve a inteligência (ou a decência) de não cair na esparrela.
A sugestão do pai do Partido Socialista é o culminar da campanha sobre a falta de legitimidade do governo para se manter em funções depois das manifestações de sábado. Segundo vários senadores da política nacional a contestação popular ao governo é sinal de que o governo devia cair.
Eu não penso que o governo deva simplesmente ignorar a rua. contudo uma democracia parlamentar não se baseia em manifestações e opiniões de pessoas que se acham donas do povo. Mário Soares, Arménio Carlos, João Proença, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã , Vasco Lourenço não foram mandatos por ninguém para interpretar a vontade popular.
A legitimidade do governo advém do voto popular, que deu ao actual governo uma maioria de 132 deputados (em 230) fruto dos 50,35% de votos que recebeu nas últimas eleições. O Dr. Soares pode não gostar do resultado das eleições, mas em democracia não governa quem tem maior tempo de antena ou reúne mais povo na rua, mas quem ganha as eleições.
A maioria clara de que o governo dispõe na Assembleia da República não é um cheque em branco para fazer o que quiser. Quase metade do país votou nos outros partidos que estão representados no Parlamento. Contudo, depois do debate cabe decidir a quem foi eleito para governar.
Nomear um governo de salvação nacional um ano e três meses depois das eleições legislativas é uma ofensa à democracia. É declarar que a vontade popular (a legítima, expressa pelo voto nas urnas) deve ceder perante a sapiência de alguns iluminados.
O Dr. Mário Soares não deveria esquecer que depois do 25 de Abril a “rua” pertencia aos comunistas e à extrema-esquerda. O MFA condicionou todo o processo democrático com o “povo”. Contudo, foi Mário Soares e não Cunhal que foi primeiro-ministro do I Governo Consitucional. Porquê? Porque o PS teve 46,4% dos votos e o PC 12% nas eleições de 75. Assim é a democracia: assim como em 1976 governou Mário Soares sem a rua mas com a legitimidade do voto, assim governa Pedro Passos Coelho em 2012.

domingo, 16 de setembro de 2012

António José Égalité!




Conta-nos a história que Luís Filipe II de Orleães, primo de Luís XVI, foi um dos principais financiadores dos movimentos que deram origem à revolução francesa. A família real acusava-o de ter inspirado (e patrocinado) a tomada da Bastilha. Aparentemente o seu grande objectivo era pôr-se à frente do movimento de contestação popular ao governo do Rei seu primo e fazer-se coroar monarca constitucional de França.
Contudo a excitação revolucionária rapidamente o ultrapassou. Em 1792, com a proclamação da I Republica, abdicou do seu nome de família e passou a ser o Citoyen Égalité. Conseguiu ainda ser eleito para a Convenção Nacional como vigésimo e último deputado por Paris. Da sua actividade parlamentar nada há para realçar a não ser ter votado favoravelmente a morte do seu primo e Rei, Luís XVI.
Durante o terror de Rosbepierre foi preso, julgado e guilhotinado. Nem o facto de ter financiado os movimentos revolucionários, nem o ter lutado contra o seu próprio povo no norte de França para impor a revolução, nem o ter votado a morte do Rei lhe serviu para livrar das garras do “povo” que tanto defendera.
Lembrei-me desta pequena história depois desta semana onde tantas e tantas personalidades incitaram o povo a revoltar-se contra as medidas de austeridade do governo. Apelos esses que culminaram nas manifestações de ontem.
Se António José Seguro, Mário Soares, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã, entre outros, não conhecem a história e o destino do Citoyen Égalité alguém lhes devia contar. É que ainda há poucos dias um dos blogues responsável pela manifestação de ontem em Lisboa se congratulava pelo facto de todos os deputados (esquerda incluída) e membros do governo da Grécia não puderem sair do parlamento sem serem atacados pelo “povo”.