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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O Fim da Austeridade: da Utopia à Tragédia Grega.


A palavra "austeridade" tem-se tornado um vocábulo essencial para qualquer conversa sobre política nos últimos anos. Tanto se tem usado esta palavra que a certa altura ela ganhou uma vida própria. De facto a esquerda tem construido toda uma narrativa à volta da "austeridade" de maneira a transforma-la numa ideologia política, como se a austeridade fosse uma escolha e não uma imposição.

Esta  narrativa chegou ao seu auge com a vitória do Syriza nas eleições gregas. Para gaúdio da esquerda há finalmente um partido anti-austeridade no governo. Um partido que aliás decretou logo o fim da mesma e tomou um conjunto de medidas (subir o salário mínimo, oferecer electricidade a 300 mil famílias pobres, readmitir na função públicas todos os que foram despedidos nos últimos anos, etc.) que deram forma a essa declaração.

O problema é que a austeridade não foi nem é uma decisão mas uma imposição. Não da Troika ou da Alemanha, mas uma imposição da realidade. O facto é que quer em Portugal quer na Grécia não havia dinheiro. O país gastava muito mais do que aquilo que produzia.

A dívida não foi inventada, foi contraida para pagar os gastos para os quais não tinhamos dinheiro.

Claro que que é discutivel se as medidas tomadas foram as melhores, se não haveria outra maneira de ultrapassar a crise. Também é evidente que muitas vezes as medidas tomadas para ultrapassar a crise levaram a resultados dramáticos. Famílias sem casa, sem luz, sem comida, sem médicos.

Mas a opção não era entre a austeridade e a abundância, mas sim entre as medidas de austeridade que se deviam tomar.

Porque a austeridade não é uma política, nem sequer existe por si mesma. A austeridade é fruto da ausência de riqueza.

O problema de aumentar o salário mínimo ou de oferecer electricidade é que tudo isso tem um custo. E se é fácil criar leis que obriguem os salários a ser mais altos ou a electricidade a ser mais barata não é possível criar o dinheiro para pagar estas decisões por decreto.

Por isso ser anti-austeridade é ser anti-realidade. Querer continuar a gastar o que gastavámos e ao mesmo tempo não pagar mais por isso não é uma opção. É como eu ganhar €500 e arrendar uma casa por €600. Ao fim de três meses estou na rua e ainda mais pobre do que estava antes de arrendar a casa.

O preço da utopia grega vai ser paga pelo povo grego. E vai ser paga de maneira ainda mais dura do que tem sido. Porque o dinheiro vai acabar (e a este ritmo rapidamente) e ninguém vai querer emprestar mais a quem não paga.

E o resultado vai ser que, apesar de todas as leis anti-austeridade, esta vai regressar. Só que vai regressar a um país ainda mais pobre.

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