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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Dez anos depois da liberalização do aborto o bebé ainda conta?





No passado onze cumpriram-se dez anos do referendo que liberalizou o aborto em Portugal. Dez anos desde que, à custa de um referendo não vinculativo onde mais de metade da população não votou, a vida intra-uterina deixou de ter qualquer protecção legal até às dez semanas de gestação.

Nos dez anos do referendo foram feitas várias reportagens. Fomos inundados por uma quantidade de número e de estudos. Várias pessoas se congratularam porque o número disto e daquilo é "melhor" do que o esperado.

Eu peço desculpa se ferir alguma sensibilidade, mas 170 000 crianças mortas antes de nascer é um facto que não pode deixar de horrorizar. Se são menos ou mais do que o esperado, se o número de abortos aumenta ou diminui, parecem-me factos menores diante desta multidão de crianças que nunca chegaram a nascer.

A indiferença perante o bebé dentro da barriga da mãe é talvez uma das piores consequências da liberalização do aborto. O facto é que passados dez anos o aborto se tornou algo banal. E tornou-se banal precisamente porque se perdeu a consciência de que dentro do ventre materno está uma vida humana.

A campanha contínua daqueles que defendiam a liberalização do aborto para afirmar que a vida que cresce dentro da mulher é apenas uma "coisa" deu frutos. Mesmo perante a evidência científica de que se tratava de uma vida, os defensores do aborto arranjaram sempre maneira de menorizar a questão: é só umas células, não é pessoa, não sente dor, não tem sistema nervoso central.

É evidente que a relativização da vida humana é fruto de uma campanha maior e mais abrangente que a do aborto. O relativismo ameaça dominar todo o pensamento da nossa sociedade. Contudo, a campanha do aborto (que começou logo em 97 e se prolonga até aos nossos dias) desempenhou e desempenha um papel fundamental neste mudança de mentalidade.

Por isso damos por nós num tempo onde se afirma que a vida humana tem o valor, tem a dignidade, que a sociedade entender. Já não é um bem objectivo, inviolável, mas sim um direito relativo, que depende da maioria que se senta em São Bento. Um direito cuja a violação tem como limite apenas a indignação popular nos media e na internet.

E é por isso que passados dez anos estamos agora a debater a eutanásia. Porque a porta aberta pelo aborto livre permitiu que se fosse avançando nesta relativização do valor da Vida. De tal modo que é possível afirmar que uma pessoa doente já não tem dignidade. Que a dignidade de cada pessoa depende do que ela própria acha. Que a vida só é válida quando se tem autonomia!

A consciência da inviolabilidade da vida humana perdeu-se neste últimos dez anos. 170 000 crianças mortas antes de nascer tornaram-se apenas numa estatística. A possibilidade de matar um doente tornou-se num acto de dignificação da Vida Humana.

É por isso urgente voltar a afirmar o carácter objectivo do valor da Vida. Porque a curto termo podemos até ganhar debates sobre a eutanásia, adiar votações, fazer pequenas alterações legislativas que diminuam o número de abortos. Mas estamos condenados a perder esta guerra enquanto não conseguirmos criar em cada pessoa a consciência de que cada Vida Humana é digna, independentemente de qualquer circunstância ou condição.

O problema do aborto, assim como o problema da eutanásia, antes de ser um problema político, ou um problema social, é um problema da consciência de cada pessoa sobre o Valor da Vida. Dizia o Servo de Deus Luigi Giussani, que partiu para o céu faz hoje 12 anos, que as forças que mudam a história são as forças que mudam o coração do homem. É preciso por isso que demos testemunho corajoso e público do valor do Homem, para fazer renascer no coração de cada um esta certeza de que cada Vida Humana é um bem.

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