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segunda-feira, 13 de março de 2017

"Uma Aventura na Cidadade" com o patrocínio da Carris.




Sou utilizador dos transportes públicos desde criança. Mesmo hoje em dia, com carro próprio, são o meu meio de transporte habitual. Todos os dias saio de casa com o meu filho com pouco mais de uma ano, vou deixá-lo à escola, vou para trabalho, vou buscá-lo e regresso a casa, sempre transportado pela Carris. E isso implica, demasiadas vezes, tempos de espera longos e autocarros cheios. Mas sobretudo significa a lotaria dos motoristas da Carris.

Lotaria porque nunca sabemos quem vamos apanhar. Podemos ter sorte e apanhar um bom condutor, cuidadoso e atencioso com os passageiros (e sou testemunha que existem muitos e bons profissionais na Carris). Podemos ter azar e calhar-nos um motorista que gostava era de fazer corridas ilegais na ponte Vasco da Gama e para quem cada paragem, cada curva e cada passagem de peões é uma novidade que obriga a uma travagem a fundo. Motoristas para quem os passageiros são pouco mais que um incómodo às suas conversas telefónicas e que vivem para exercer a autoridade soberana que a Carris lhes concede sobre os seus utentes.

Dou dois exemplos. No dia 13 de Fevereiro, fui buscar o meu filho à escola. Apanhei o eléctrico para casa e tive que entrar por trás, uma vez que com um carrinho de bebé e sem ajuda é impossível fazê-lo pela frente. O problema é que só se consegue validar o passe na parte da frente do eléctrico, o que só conseguiria fazer abandonando o meu filho na parte de trás. Expliquei isto à motorista que não fez qualquer tentativa de resolver o problema. Limitou-se a ralhar comigo por me recusar a deixar sozinho uma criança de um ano para cumprir esse sagrado dever de validar o passe mensal! O ralhete, já de si foi desagradável, foi o menos mau. Chegando à minha paragem a senhora recusou-se a abrir a porta de trás do eléctrico e a deixar-me sair, tendo seguido o seu caminho, apesar dos meus protestos. Depois de muitos gritos e berros, tudo isto com uma criança de um ano dentro do seu carrinho, lá consegui que a motorista me permitisse sair do eléctrico na paragem seguinte.

O segundo exemplo conseguiu ser ainda mais caricato. Dia 8 de Março, dia internacional da mulher, a minha mulher, grávida de oito meses e com uma grande barriga foi buscar o nosso filho à escola. Entrou no autocarro, colocou o carrinho do bebé de forma a causar o menor incómodo possível e sentou-se. Rapidamente foi repreendida pelo motorista porque tinha que levar o carrinho da zona destinada ao mesmo. A minha mulher ainda tentou explicar que não podia, porque dado o seu estado tinha que ir sentada. De nada lhe valeu. Acabou por ter que se sentar no chão, na zona dos carrinhos, e assim fez todo o percurso sem que o motorista se tenha incomodado por uma única vez em tentar encontrar uma solução para o problema.

E tudo isto se passa sem que a Carris faça alguma coisa para fiscalizar a qualidade dos seus motoristas. Da primeira situação ainda fiz queixa à Carris e ao provedor dos utentes dos transportes públicos de Lisboa. Até hoje, um mês depois, ainda não recebi resposta alguma. Da segunda, ainda nem fiz queixa tendo em conta a sua inutilidade.

E assim, enquanto temos campanhas publicitárias sobre a utilidade dos transportes públicos, enquanto compramos autocarros o mais amigos do ambiente possível, enquanto instalamos os mais avançados sistemas de controlo de bilhetes, temos uma empresa pública de transportes onde os bebés não podem entrar no eléctrico e as grávidas vão sentadas no chão.

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